Demasiadas vezes se fala na morte do cinema e não tantas como se deveria do seu futuro. Ontem, no início de dois filmes de Charlie Chaplin no Teatro Nacional de São Carlos, os meus olhares mais insistentes nem foram para o que de magnífico acontecia no ecrã. Foram, de cabeça para trás e olhos para cima, em direcção à luz que saía de um projector no camarote presidencial que iluminava, na escuridão de um grandioso teatro, os olhares dos espectadores, dando a penumbra a uma sala onde se juntavam três a quatro gerações diferentes num movimento eterno em si mesmo. O que leva tantas pessoas e idades diferentes a uma sala onde se junta a mais dispendiosa arte cénica à mais precária das artes do movimento? É a vida, os seus sentimentos e as emoções que são as suas fontes.
Enquanto formos vivos, esse olhar e esse desejo de nos comovermos continuarão a existir sempre. Felizmente, são os sentidos que nos comandam, fazendo-nos sentir que existe algo maior do que a nossa existência e que esse algo maior também nos pertence. E, por fim, que nos dão a ilusão de um movimento do tamanho dessa sala e da soma de idades que nela se juntou: maduro e inocente, curioso e grande, acolhendo o riso de cada criança para a tela da mesma maneira que acolhe os olhos comovidos dos adultos que sentem a sua inocência perdida.
É isso o cinema: bonito e eterno, juntando-nos por aquilo que somos e sentimos, sem idade nem lugar para que se julgue aquilo que vivemos. E que nos faça sentir que a vida nunca termina quando os olhos se abrem a ela.