9 de agosto de 2013

De l'espoir dans sa crainte et de la crainte dans son espoir

Talvez um rapaz de trinta anos não devesse pensar tanto nisto, mas acabamos por viver também o que a vida nos dá na sua passagem, relembrando-nos que, por cada desaparecimento e cada adeus que nos vemos obrigados a fazer, surge a obrigação de continuar os nossos passos e o nosso dever de criação. A vida é efémera e passageira, mas imensa e maravilhosa. É a maior das contradições e é tudo isso que nos move, não há solução para ela pois ela não nos pede nenhuma. Talvez seja essa a pequena aprendizagem da maturidade.

Por isso, não será estranho num dia em que se celebra a vida, como no seu aniversário, que se pense também na morte. Dos momentos mais tocantes que vivi numa sala de cinema foram no mergulho em filmes e histórias de Frank Capra - nunca tanto como nessas obras se celebraram de forma tão comovente o que a vida nos oferece e, sobretudo, o que ela ainda tem para oferecer, pois a sua comoção surgia, precisamente, perante esse perigo, essa ameaça, e, depois, com a interiorização do fim de todas as coisas. Por se estar sempre no limiar dessa escuridão, ou do desespero que fazemos quando a sentimos chegar, é que surge o seu exacto oposto: uma euforia de viver, um desejo tremendo e absoluto de amar quem está à nossa volta e que vemos como provas de vida, de amor, de amizade. E assim, de dar os grandes passos que a vida nos pede para fazer - os da coragem e da curiosidade. Crescer como o Mr. Smith até à altura do Capitólio e do seu sonho de sociedade até ficar sem voz, subir até ao céu por momentos e regressar, pela via dos anjos, como aconteceu a George Bailey, para perceber que o paraíso estava, afinal, na terra, junto dos seus. Ou perceber que os promenores materiais aos quais damos tanto de nós, na verdade, de pouco valem, porque quando chega esse momento eterno, alguém dir-nos-á: you can't take it with you

Ao passar na alfarrabista de Campo de Ourique, hoje de manhã, uma biografia colocada cá fora convidou-me a abri-la e a descobrir as palavras, dentro dessa vida, que se adequavam exactamente ao que sentia, em toda a minha walking contradiction (Tolstoï, Henri Troyat):

"A quelque temps de là, il apprit que son vieil ami, le publiciste Vassili Pétrovitch Botkine, était mort chez lui, le 4 octobre, au cours d'une soirée musicale à laquelle il avait convié beaucoup de monde. N'était-ce pas étrange, ces préparatifs, ces invitations lancées aux quatre coins de la ville, cet orchestre, ces chaises dorées, ces corbeilles de fleurs, ces soucis de buffet, de vins, de toilettes, de préséances et, tout à coup - la culbute? Et lui, comment mourrait-il? En feuilletant son carnet de notes, il retrouva ces lignes qu'il y avait écrites quatre ans auparavant: 'J'attendais des gens que j'aimais... Ils arrivèrent exactement tels que je souhaitais les voir. J'étais heureux. Le soir, je me couchai. Je me trouvais dans cet état de demi-somnolence où l'agitation futile s'apaise et où l'âme se met à parler clairement... Mon âme aspirait à quelque chose, voulait quelque chose. Que puis-je vouloir? me demandai-je avec étonnement. Mes amis sont arrivés. N'est-ce donc pas de cela que j'avais besoin pour recouvrer mon calme? Non, ce n'est pas de cela... De quoi donc alors? Je passai tout en revue... Rien ne put satisfaire en moi ce désir. Et ce désir persistait, persiste encore et constitue même ce qu'il y a de plus important et de plus fort dans mon âme. Je désire ce qui n'existe pas ici, dans ce monde. Mais cela existe quelque part puisque je le désire. Où?... Se régénérer, mourir. Voilà le calme que j'espère et que nous espérons...' Hier, il espérait la mort, aujourd'hui il la craignait. Mais n'est-ce pas le propre de l'homme de mettre toujours, quoi qu'il advienne, de l'espoir dans sa crainte et de la crainte dans son espoir? Désormais, il allait vivre comme un blessé dont on n'a pu extraire la balle. Elle est là, dans la tête. Impossible de l'oublier. Pourtant on la sent à peine. L'hiver vint, la neige entoura la maison, la famille se resserra autour des pôeles allumés, et Léon Tolstoï, peu à peu, reprit confiance en son avenir sur la terre."