Li a BD Le bleu est une couleur chaude da última vez que estive em Paris, nesta mesma livraria, e foi a primeira vez que li uma banda-desenhada por inteiro desde que as tinha abandonado, bem jovem, para as imagens em movimento. Hoje, lembro-me dos que falam do cinema antigamente - que os filmes viviam na cabeça dos espectadores ainda antes de serem vistos, quando chegavam aos nossos olhos apenas pela palavra, textos de correspondentes, e pela crítica (sem Internet, sem marketing electrónico). Hoje, La vie d'Adèle, o filme, vive de tal forma na minha cabeça que os batimentos que recebo dele no meu coração apenas me mostram o que, muitas vezes, é esquecido: o cinema, na sua essência, não muda e não morrerá independentemente das formas que vier a tomar. É com as nossas emoções que ele lida, e a sua forma fantasmagórica ou espiritual - como queiram -, age sempre do mesmo modo: entra dentro de nós, sorrateiramente, mexe com o que somos, lê as nossas fantasias, e faz correr o nosso sangue a outra velocidade. É um acto de amor. Até quando foge depois, filme visto, do nosso corpo, e nos faz sempre andar atrás dele, tal a sua marca. Sofro um bocadinho por não saber quando é que poderei ver o filme, mas por outro lado, é como quem sofre um pouco por saber que ainda não pode ver a pessoa que ama. Quando nos encontrarmos, esse amor será maior e os beijos mais apaixonados.